BAILARINAS NA HISTÓRIA DA DANÇA ORIENTAL



terça-feira, 14 de setembro de 2010

Little Egypt


Pesquisa realizada pelas alunas do curso "Nove Luas" ministrado por Petra Pinto:


Inês Silva


"O “Little Egypt” é uma região assim mais conhecida mas situada em “Southern Illinois”, nos EUA. A origem da alcunha popularizada não é absolutamente clara, no entanto, alguns factores são apontados para tal: um deles é que a região se tornou “famosa” pelo papel que assumiu no fornecimento de grãos de Illinois do Norte e Centro após um rigoroso inverno em 1830-31. Upper Illinois teve um inverno muito mais longo e drástico e muita da colheita foi arrasada pela geada de Setembro, em comparação com a região Sul. Esta situação levou a que comboios transportassem grãos produzidos para a região mais afectada. Muitos acreditam que esta imagem tem semelhanças com a história da Bíblia dos filhos de Jacó que para sobreviverem à fome, foram comprar cereais ao Egipto e foram bem atendidos, daí o nome de “Little Egypt”.
Outro factor está relacionado com uma comparação entre a massa de terra cercada pelo grande rio de Mississippi e outro em Ohio, com o delta da região do Nilo, no Egipto. Segundo Hubbs, o apelido pode datar de 1818, quando uma grande extensão de terra foi comparada na confluência dos rios e os seus desenvolvedores nomearam-na Cairo. Hoje a cidade do Cairo, encontra-se numa península onde o rio Ohio se junta com o de Mississippi.
É curioso também saber que alguns estabelecimentos têm também nomes ligados à cultura egípcia: Tebas, Líbano, Cairo e Karnak. Há ainda um High School na parte extremo sul do estado e num aspecto mais natural, existem montes similares às pirâmides localizadas na Cahokia. Até o nome de algumas equipas desportivas da universidade mais importante da região, a Southern Illinois University Carbondale, tem o apelido de Salukis, que é uma raça canina que surgiu no Médio Oriente.

Fonte: http://www.economicexpert.com/a/Little:Egypt:region.htm

Quer a dança do ventre tenha tido maioritariamente influência religiosa ou isso não tenha sido de facto o principal ponto de surgimento, é inegável que teve algum tipo de contributo. À luz daquela época posso pensar como é que numa civilização que pouco poderia ter de semelhante com a cultura Oriental, se molda e assume características culturais desta. Lembro que a era global em que a informação e os conhecimentos estão muito mais acessíveis, não se repetia, provavelmente, naquele tempo.
Mas não só numa perspectiva histórica, económica e geográfica temos esta expressão. “Little Egypt” foi também o nome de palco de duas dançarinas bastante populares: Farida Mazar Spyropoulos e Ashea Wabe.
Em 1893, foi realizado pela 1ª vez no teatro egípcio o “World's Columbian Exposition Midway” em Chicago, Estados Unidos, que apresentava um espectáculo de Dança do Ventre. Sol Bloom intitulou esse espectáculo com o nome de “The Algerian Dancers Of Marocco”, com a atracção intitulada “A Street In Cairo” em que Spyropoulos participou. Spyropoulos ou Fatima, o seu outro nome de palco, não era nem egípcia, nem argelina, mas sim Síria. Devido à sua estatura pequena, Farida foi apelidada de “Little Egypt”.Farida acabou por expandir os seus espectáculos e consigo, tornou esta alcunha mais popular; as dançarinas da altura adoptaram também este nome, apesar de, claro está, terem feito algumas variações da dança.

A verdade é que a palavra “Bellydancer” não fazia ainda parte dos dicionários e portanto este era o nome associado às dançarinas exóticas. Mais tarde, Farida reclamou ser o original de “Little Egypt” na Feira de Chicago.
Já com 62 anos, a dançarina deu um espectáculo em Chicago ainda com o nome que a ela foi associado durante muito tempo, em 1993!

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Little_Egypt_(dancer)

Entendemos como funciona o nome de uma dançarina em palco, este se associado à sua forma física e à sua personalidade, sendo o seu “bilhete de identidade”. O nome é a única coisa que as pessoas sabem da dançarina antes de a verem actuar, por isso deve ser a verbalização curta do que ela realmente é. Um exemplo disso mesmo é como o nome perdurou na mente das pessoas com Farida Mazar Spyropoulos.
A história da segunda “Little Egypt” é mais controversa e até inesperada. Ashea Wabe foi capa das notícias no ano de 1896, depois de ter dançado na famosa 5ª Avenida em Nova Iorque na despedida de solteiro de Herbert Seeley. Mas uma dançarina sua rival, alegou que Ashea iria dançar nua. Mesmo estas informações sendo falsas, a verdade é que trouxeram uma maior fama e a visibilidade que Ashea até aqui não tinha.
De seguida, esta foi contratada pelo empresário da Broadway Oscar Hammerstein I, para aparecer numa paródia humorística no jantar de Seeley. Ela teria sido, entretanto, esquecida se não fosse uma série de fotos tiradas pelo fotógrafo Benjamin Falk.

Fonte: http://en.allexperts.com/e/l/li/little_egypt_(dancer).htm

Assim, uma provável calúnia, que poderia manchar a imagem artística de Ashea Wabe, tornou-se num meio de visibilidade para ela e a ajudou a ascender para ficar na história da Dança do Ventre."


Patricia Pinto

"No filme Fátima, que já fez cem anos, uma mulher morena, vestida de maneira 'exótica', umbigo à mostra, apresenta uma dança 'estranha' na qual sua barriga ondula ostensivamente. A sua aparência desencadeia uma série de questões. Quem é essa Fátima? Qual é o seu nome? De que género é sua dança? E o que é que ela faz num filme americano? Consagrado na antologia dos filmes da década de 1890 do Museu de Arte Moderna (de Nova York), Fátima aparece na maioria dos livros académicos sobre história do cinema. Mesmo assim, em sua dança silenciosa, Fátima provocou um curioso silêncio de cem anos sobre sua identidade. Estaria sua aparição na tela apontando para um fenómeno cultural maior? E qual era o contexto dessa mostra de exotismo?
De fato, o cinema inventou um Oriente geograficamente incoerente, forçando esse Oriente à coerência através da produção de uma consistência visual, reproduzida mecanicamente de filme em filme, de género em género.
As dançarinas do ventre não eram convidadas a apresentar seus talentos coreográficos ou performativos em casas de espectáculos europeias ou americanas, elas eram mostradas como espécimes aberrantes em exposições coloniais em que o 'mundo' não-europeu era reconstruído para o consumo local.
As 'autênticas' cidadelas argelinas e ruas do Cairo fabricadas em Paris, Londres ou Nova York, com seus objectos detalhados (tapeçarias, narguilés, divãs), formavam um cenário rico para os rituais de suas 'moradoras' de roupas coloridas, trazidas lá do Egipto e da Argélia para desfilar diante dos olhos estupefactos do Ocidente. Beber café turco, assar pão berbere, ou simplesmente dançar e cantar, eram apenas alguns dos 'rituais' que apareciam entre as encenações do Oriente.
Acompanhando a popularidade da dance du ventre, termo cunhado na França, comerciantes norte-americanos decidiram trazer a novidade para as exposições nos Estados Unidos: a Philadelphia Columbia Exposition, de 1876, apresentou dançarinas tunisinas; a mostra Century of Progress, de Chicago, em 1893, importou toda uma cidade argelina da França, incluindo Little Egypt (Pequeno Egito).
Little Egypt era o nome artístico de duas dançarinas no final do século XIX: Ashea Wabe e Farida Mazar Spyropoulos, que apareceu na Chicago World’s Fair em 1893, também usava o nome Fátima. Muitas outras dançarinas da época usaram este nome artístico.
A dança de Little Egypt era também conhecida pelo nome de “Hootchy-Kootchy”, termo que se tornou pejorativo.
Ashea Wabe, após algumas aparições de importância nos media da época, caiu no esquecimento. Diversas dançarinas e streapers adoptaram o nome Little Egypt que se tornou sinónimo de “Dança Exótica”.
Farida Spyropoulos plagiou o verdadeiro título de Little Egypt da Chicago World Fair, apesar de ninguém ter usado este nome artístico na época, Farida, por causa de seu tamanho “little” acabou sendo reconhecida como a verdadeira Little Egypt.
Em 1933, com 62 anos, Little Egypt apresentou-se na “Century of Progress” em Chicago"


Gisela Antunes

Alegadamente, “Little Egypt” é o nome artístico que designa a primeira bailarina famosa de dança oriental nos Estados Unidos. Crenças populares acreditam que ela era a grande estrela de dança do ventre que actuou na Grande Exposição Mundial de Chicago em 1893.
Penso ter encontrado informação mais fidedigna sobre o mito “Little Egypt” em referências ao livro “Looking for Little Egypt” de Donna Carlton, de 1994. Este livro fala sobre essa exposição e sobre o florescer da dança oriental nesse Mundo Novo.
Em meados do século XIX foram organizadas exposições mundiais no ocidente que divulgaram, entre outras coisas, culturas de vários países promovendo um intercâmbio artístico onde bailarinas do oriente migraram para Europa e América. As danças orientais apresentadas na Exposição Mundial Chicago, ainda que se questione a sua autenticidade, arrecadaram imensas quantias em dinheiro por causa do grande choque causado às mulheres da Era Vitoriana, que viviam apertadas em seus espartilhos e aprendiam os passos das suas danças refinadas e "civilizadas" com professores especializados. O sensacionalismo despertado a partir dos movimentos improvisados e "selvagens" dos quadris das dançarinas da feira atraíram milhares de curiosos, que muitas vezes chegavam a Chicago com o único objectivo de assistir a essas apresentações.
Donna Carlton estudou aprofundadamente o assunto e refere que alguns aproveitaram o facto da dança oriental suscitar tanto interesse para tirar proveito financeiro dela, manipulando a opinião do público com a criação de escândalos que arruinavam a reputação da dança do ventre, vista como uma dança obscena. Foram mesmo “bastardizadas” de bailarinas de hootchie-cootchy.
Ela afirma que “Little Egypt” é uma lenda americana e que não existem provas concretas de que tenha existido uma bailarina com esse nome. Aliás, após a criação desse mito, muitas bailarinas apelidaram-se de “Little Egypt” para ganharem dinheiro com o nome. O nome “Little Egypt” passou a designar a bailarina de dança oriental em geral.
No entanto, existem duas bailarinas que são preferencialmente apontadas como detentoras desse título.
Uma é Fahreda Mahzar Spyropoulos, que actuou na Exposição Mundial de Chicago, e que alegadamente seria a estrela da feira.
A outra candidata mais provável é Ashea Wabe, uma das bailarinas que também utilizou este nome artístico. Não se sabe se ela actuou na Exposição Mundial de Chicago.
Donna Carlton acredita que ambas começaram a utilizar este nome artístico, apenas depois de ele se ter tornado num mito e em sinónimo de bailarina de dança exótica, oriental.
Depois de tudo o que pesquisei, penso que naquela altura, a dança oriental apresentava-se como uma novidade que fascinava a maioria, e onde há muita gente, há interesses económicos e financeiros, que são mais facilmente rentabilizados com a criação de mitos, porque o povo gosta de acreditar em histórias bonitas, mágicas, fantásticas.
Penso que dado a evidência dos factos ou a falta deles atestados verdadeiramente, o mais certo é que a famosa “Little Egypt” nunca tenha existido, mas designasse, não uma bailarina específica, mas todas as bailarinas que se apresentaram na Exposição Mundial de Chicago, todas essas mulheres misteriosas que espalharam o cheiro, o balançar, a cultura oriental e cativaram o Mundo Novo.

“Little Egypt” também designa uma academia de dança oriental em Garland no Texas.
Também deixou o seu legado em filmes e na música. Filmes sobre a lendária bailarina, “Little Egypt”, e na música, Jerry Leiber e Mike Stoller, produzem uma canção com este título, onde a bailarina é apresentada como burlesca. Este tema foi mais tarde interpretado por Elvis Presley. Outros músicos fizeram referência a esta mítica bailarina nas suas canções.
Little Egypt é também o nome dado à região sul do estado de Illinois nos Estados Unidos ou Sud Illinois."

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